terça-feira, 26 de junho de 2012

INDÚSTRIA QUER ISENÇÃO TOTAL PARA CARRO ELÉTRICO

O governo já tem pronto o projeto que reduz o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de veículos elétricos e híbridos no Brasil. Mas algumas montadoras mantêm seus representantes em Brasília para convencer o governo a diminuir também o Imposto de Importação.

O projeto elaborado pelo Ministério da Fazenda, que prevê a redução da alíquota de 25% do IPI de forma gradual, condiciona o incentivo à incorporação de componentes brasileiros no veículo, à utilização de pesquisa brasileira e à produção efetiva do veículo no país. Antecipada pelo Valor em outubro, a fórmula que estimula essas novas motorizações no país faz parte do novo regime automotivo. Quanto maior a utilização de conteúdo nacional, menor será a alíquota do imposto.

As montadoras interessadas no incentivo insistem, porém, para que também o Imposto de Importação seja reduzido. Elas argumentam que não conseguiriam produzir em escala sem antes testar o mercado com carros produzidos em outros países. Com a decisão do governo de elevar em 30 pontos percentuais o IPI dos carros com menos de 65% de conteúdo nacional - em vigor desde dezembro -, a carga tributária dos híbridos ou elétricos passa de 120%.

Desta vez, no entanto, o lobby da indústria ganha peso à medida que mais empresas defendem os incentivos. A resistência de alguns fabricantes hoje é menor do que há dois anos. Em maio de 2010, um encontro do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a imprensa para anunciar um programa de estímulo ao carro elétrico foi cancelado minutos antes sob o argumento de que Lula pedira mais tempo para conhecer a proposta. Naquela ocasião, também pesava contra o programa a falta de consenso entre as montadoras.

A Toyota é uma das empresas que trabalha para acelerar a criação do incentivo e de incluir a redução do Imposto de Importação. A montadora se prepara para daqui a quatro meses começar a vender no Brasil o modelo híbrido Prius, importado. Segundo fontes do governo, a Toyota já teria mostrado interesse em produzir o Prius no Brasil. A empresa não confirma informação. O grupo Renault - Nissan e a Mitsubishi lideram a frente das empresas interessadas especificamente nos incentivos para veículos 100% elétricos.

Segundo fontes da indústria, ao ver o projeto, há pouco mais de uma semana, a presidente Dilma Rousseff teria solicitado um detalhamento mais preciso de como esses veículos funcionam.

No projeto elaborado pelo Ministério da Fazenda, os incentivos contemplarão dois tipos de veículos: os chamados elétricos "puros", que dependem de carregamento de energia das baterias, e os chamados híbridos, que contam com dois motores - um a combustão serve tanto para movimentar o veículo em si como para carregar o elétrico. O uso de um ou de outro depende, basicamente, da velocidade e necessidade de potência. No carro híbrido, o motor elétrico funciona bem na cidade e o outro, a combustão, é útil em estradas.

No caso dos elétricos, o sistema de carregamento em tomadas leva entre quatro a oito horas para que as baterias do automóvel sejam totalmente carregadas. Mas nos países mais desenvolvidos nesse processo já existem testes para diminuir o tempo para 30 minutos. No caso dos modelos híbridos, que não requerem infraestrutura para carregar as baterias, há a desvantagem da poluição, embora menor, e do uso de gasolina. Como esse tipo de veículo ainda não chegou no Brasil, as montadoras ainda não começaram a comercializar o híbrido com etanol. Mas há pesquisas avançadas nessa direção.

Um dos problemas apontados por técnicos do governo é que os estímulos ao carro elétrico acabariam, no médio prazo, por ampliar o consumo de energia elétrica no país. Esta pressão adicional sobre a oferta de energia não é bem vista no governo, ainda que, segundo apurou o Valor, há consenso quanto ao incentivo ao desenvolvimento desses veículos no país.

"Hoje esses veículos são desestimulados pela legislação tributária, que não prevê esse tipo de carro. Precisamos estimular a entrada desses veículos no Brasil, mas não basta apenas incentivar. Há um enorme cuidado quanto à oferta de energia futura", diz uma fonte da área econômica.

Por outro lado, segundo trabalho do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), apresentado durante a Rio+20, mesmo que toda a frota brasileira mudasse para carros 100% elétricos, o impacto no sistema de energia não passaria de 10%.

Nos países onde esses veículos já são vendidos a maior preocupação volta-se para a necessidade de ampliar os postos de recarga públicos e de promover a diferenciação das tarifas de energia, por meio das redes inteligentes (os chamados "smart grids"). Dessa forma, o consumidor tomaria a precaução de carregar as baterias durante a madrugada, fora dos horários de pico.

Nenhum comentário:

Postar um comentário