segunda-feira, 6 de agosto de 2012

GRAU DE DEPENDÊNCIA DE INCUBADORAS É ALTO, MOSTRA ESTUDO

As empresas novatas brasileiras vivem um momento privilegiado, com o aumento da oferta de capital de investidores-anjos e grupos de investimento nacionais e internacionais. Esse cenário, no entanto, não se repete na área de incubadoras - até o fim da década passada consideradas os principais agentes de apoio a "startups" no país.

O levantamento mais recente da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec) revela que as incubadoras ainda apresentam dificuldades para se tornarem autossuficientes.

O estudo mostra que existem no país 384 incubadoras, 4% menos que em 2007. Juntas, elas atendem a 2,5 mil empresas novatas, um número 10,7% inferior ao de cinco anos atrás.

Mas o ponto considerado crítico, na avaliação de Francilene Procópio Garcia, presidente da Anprotec, é a grande dependência das incubadoras em relação a recursos de terceiros - sobretudo subvenções do governo.

De acordo com o levantamento, 27% das incubadoras não geram receita própria, dependendo exclusivamente de doações de instituições mantenedoras e de recursos do governo.

Outros 51% possuem receita própria, mas esses recursos são inferiores a 30% do faturamento total e abaixo do volume de recursos que necessitam para se manter em operação.

"Mais da metade das incubadoras ainda é muito dependente de recursos do governo", afirma a presidente da Anprotec. Francilene observa que o alto grau de dependência das incubadoras é um problema que ganhou corpo na década passada e permanece até os dias de hoje.

A Anprotec pesquisou o comportamento de incubadoras em outros países e observou que apenas na Alemanha e no Reino Unido as incubadoras sobrevivem principalmente com recursos próprios.

Em países da Europa, da América do Norte e em Israel, as políticas de fomento a incubadoras têm papel importante no financiamento dessas instituições, mas em nenhum deles a dependência é tão grande quanto no Brasil, diz Francilene.

Na Europa, 28,5% da receita das incubadoras tem origem nos serviços que elas prestam e na negociação de royalties de patentes registradas pelas empresas incubadas. No Reino Unido, o índice chega a 45% e, na Alemanha, a 67%.

A dificuldade das incubadoras de gerar a própria receita tem como principal consequência a impossibilidade de oferecer serviços a mais empresas novatas.

A presidente da Anprotec defende a adoção no Brasil de um modelo de gestão de incubadoras semelhante ao que foi adotado em Israel, que em 2002 deu início a um processo de privatização das incubadoras, até então vinculadas ao governo.

Atualmente, das 24 incubadoras existentes naquele país, 22 são administradas e financiadas pelo setor privado. Nelson Milner, diretor da Câmara Brasil Israel, observa que as incubadoras recentemente criadas em Israel recebem bastante apoio governamental e, à medida que crescem e melhoram sua capacidade de gerar receita, são privatizadas. "Grandes companhias nacionais ou estrangeiras que têm interesse por tecnologias desenvolvidas pelas 'startups' adquirem participação na incubadora", diz.

A presidente da Anprotec afirma que, no caso brasileiro, existem incubadoras bem-sucedidas que recebem investimentos de grandes companhias, mas que elas são uma exceção. É o caso, por exemplo, do Porto Digital, em Recife, que já recebeu aportes de grupos como IBM, Motorola, Samsung, Nokia, Dell e Microsoft. O Porto Digital movimentou R$ 1 bilhão em 2011, sendo que 36% desses recursos foram provenientes do governo. O restante foi originado pelas empresas do próprio polo.

Francilene diz que grandes grupos internacionais que atuam no país investiram na criação de aceleradoras - ambientes similares a incubadoras, em que investidores fazem pequenos aportes em empresas novatas com o objetivo de proporcionar um crescimento acelerado de sua receita. Os casos mais recentes são da Microsoft, que anunciou a intenção de criar seis aceleradoras no país, para fomentar 2 mil empresas, e a 21212, com sede no Rio de Janeiro e em Nova York, que já investiu em dez companhias no país.

Com base nos dados coletados, a Anprotec enviará ao governo federal sugestões de mudanças na política de apoio às incubadoras. "Não pode ser uma subvenção eterna. As incubadoras precisam ficar menos dependentes, para atrair mais recurso privado, hoje voltado para aceleradoras", diz.

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