segunda-feira, 20 de junho de 2011

COPOM SINALIZA MAIS JUROS, MAS VÊ CENÁRIO FAVORÁVEL

O Comitê de Política Monetária (Copom) deve promover pelo menos mais um aumento na taxa básica de juros (Selic), que hoje está em 12,25% ao ano. Por causa das incertezas associadas ao desempenho da economia mundial, é possível, entretanto, que o Comitê faça uma elevação adicional na reunião marcada para o fim de agosto. No total, a taxa pode chegar, no curtíssimo prazo, a 12,75% ao ano.

Essas sinalizações constam da ata da última reunião do Copom, divulgada na quinta-feira pelo Banco Central (BC). Apesar da previsão de manutenção e possível ampliação do ciclo de aperto monetário, o documento traz, pela primeira vez em muito tempo, indicações de que a inflação pode perder fôlego. As nuanças de linguagem são cruciais para a leitura correta dos documentos do BC.

"Embora incertezas crescentes que cercam o cenário global e, em escala bem menor, o cenário doméstico, não permitam identificar com clareza o grau de perenidade de pressões inflacionárias recentes, o Comitê avalia que o cenário prospectivo para a inflação mostra sinais mais favoráveis", diz o documento no parágrafo 30. Na ata da reunião anterior, ocorrida em abril, foi dito que o cenário prospectivo não evoluíra "favoravelmente".

O atual ciclo de alta da Selic começou em abril do ano passado. Desde então, o Copom elevou a taxa em 3,5 pontos percentuais. Mesmo assim, no mesmo período, o país assistiu a uma forte aceleração inflacionária, provocada, em grande medida, por um descompasso entre oferta e demanda, mas também por choques de oferta internos e externos, afetando principalmente os preços de alimentos e commodities em geral.

No ano passado, a inflação, medida pelo IPCA, chegou a 5,9%. Nos meses seguintes, continuou em processo de aceleração. Nos 12 meses completados em abril e maio, bateu no limite superior do intervalo de tolerância do regime de metas - respectivamente, 6,51% e 6,55%. Em agosto, pode chegar a 7%.

A intensificação do aperto monetário no governo Dilma - de janeiro a junho, a taxa Selic já subiu 1,5 ponto percentual - e a adoção das chamadas medidas macroprudenciais para conter a expansão do crédito e do consumo começaram a surtir efeito, segundo avaliação do Copom. Há sinais de que a economia, que cresceu 7,5% em 2010, a maior taxa de expansão em 24 anos, está desaquecendo, embora o ritmo ainda seja incerto.

O que preocupa o BC na sua estratégia de combate à inflação é o fato de o mercado de trabalho seguir aquecido, sem dar sinais de arrefecimento. Em abril, o índice de desemprego atingiu o mínimo histórico da série iniciada em março de 2002 - 6,4%. Um mercado de trabalho tão apertado, com pleno emprego em algumas regiões, pressiona para cima os salários e dificulta o controle da demanda, especialmente dos preços dos serviços. Apenas para efeito de comparação, em 2008, quando o país viveu processo inflacionário parecido com o atual, a taxa de desemprego era muito maior.

A massa salarial real, calculada a partir do rendimento médio real habitual da população ocupada nas seis maiores regiões metropolitanas do país, atingiu 4,3% em abril, quando comparada ao mesmo mês de 2010. "(...) Permanece", diz a ata do Copom, "como fator-chave para a sustentação do crescimento da demanda doméstica". Este é, sem dúvida, um obstáculo à estratégia anti-inflacionária do BC.

É por essa razão, e pelas "incertezas crescentes" do cenário internacional, que o Copom está sinalizando novos aumentos da taxa de juros por um período "suficientemente prolongado". A preocupação está em linha com as expectativas dos agentes econômicos, que estão melhorando sucessivamente suas previsões sobre a inflação deste ano, mas seguem apontando uma deterioração em relação à do ano que vem.

Por fim, há um desafio de natureza política a ser vencido pela diretoria do Banco Central. O Copom vai aumentar a taxa de juros nos próximos dois meses, quando o IPCA mensal, por razões sazonais, estiver próximo ou igual a zero. Por causa disso, certamente haverá tensão em Brasília. Ocorre que o objetivo do Comitê é fazer a inflação convergir para a meta em 2012. Resta saber se o governo, principalmente a presidente Dilma Rousseff, entenderá as razões do Banco Central e o apoiará em suas decisões.

(Fonte: Valor Econômico, extraído de Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão)

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