quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

DE VISIONÁRIOS A EMPREENDEDORES

Produtos e serviços inusitados conquistam o mercado quando quem inventa também sabe vender. Mas é preciso cautela para que boas idéias não fracassem na aplicação.

No mundo dos negócios, não basta ter uma boa idéia para se obter sucesso, mas muitas oportunidades surgem através de um projeto inusitado e despretensioso. Algumas descobertas carregadas de mérito não se materializam. Em outras situações, iniciativas que jamais foram cogitadas causam verdadeiras inovações e se tornam negócios rentáveis. “O que define o sucesso, ou não, é a capacidade de o inventor desenvolver o projeto sozinho ou em parceria, a competência na comercialização e a abordagem correta no mercado”, resume o professor aposentado da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) Luiz Fernando Coelho de Souza, coordenador da Comissão Julgadora do Prêmio Gerdau Melhores da Terra.

Para ele, boas idéias são insuficientes se não forem aplicadas de forma correta. Souza diz que as invenções que viram produtos ou serviços lucrativos são aquelas cujos autores conseguem enxergar as demandas, aproveitando nichos comerciais e o momento certo para colocar os projetos em prática.

Ele cita o caso da máquina de desinfecção e secagem de ovos férteis que recebeu o Prêmio Gerdau Melhores da Terra na categoria Destaque 2010. Criada pela Fornari - indústria de pequeno porte de Concórdia (SC), que produz equipamentos de biosegurança, destinados a propriedades rurais para combate de pragas e doenças - a máquina, aplicada na produção de pintos é pioneira no mundo. Seu sistema evita perdas causadas pela contaminação por micro-organismos. O equipamento limpa, desinfeta e realiza uma ovoscopia, para evitar fissuras nos ovos e consequente entrada de bactérias. A lavagem é feita à base de água e cloro, com posterior secagem, com capacidade para desinfetar entre 80 mil e 240 mil ovos férteis por dia.

Levando em consideração a produção de 6 bilhões de frangos por ano no Brasil, o equivalente a 12 bilhões de toneladas de carne de frango, esta é uma iniciativa “fantástica”, segundo a definição do professor. “É o exemplo de uma inovação que surgiu com a necessidade de mercado e, em questão de um ano, já é vendida em todo Brasil.”

De acordo com a gerente administrativa da fábrica, Luciane Piovezan Fornari, a ideia veio após uma conversa com um cliente. “Fomos realizar testes com outro produto na agroindústria de um produtor rural no Interior do Rio Grande do Sul e ele comentou que estava se incomodando na Justiça devido à utilização de formol na desinfecção de ovos férteis”, recorda.

Na época, não havia outra forma para realizar a desinfecção de ovos, sem prejudicá-los ou contaminá-los. No entanto, o formol, quando mal aplicado, pode matar o embrião, além de causar risco de câncer em quem realiza a limpeza. “Eu não sabia disso e conversei com minha equipe sobre esta necessidade. Estudamos a umidade do ovo e a temperatura para desenvolver um equipamento que fizesse o processo respeitando o embrião.”

Um ano depois, a Fornari desenvolveu o equipamento, com um princípio simples, mas várias particularidades. O produto chegou ao mercado em 2009, como protótipo, e passou a ser comercializado em 2010. A inovação proposta por Luciane aumentou a produção de ovos no Brasil em uma média de 3% a 5%. As máquinas, que custam entre R$ 38 mil e R$ 42 mil, dependendo da quantidade de núcleos do granjeiro, em breve deverão ser vendidas para países da Europa, América Latina e para os Estados Unidos.

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